Jimmy Mubenga

A morte de Jimmy Mubenga no Outubro passado quando ele estava a ser deportado para Angola é um daqueles acontecimentos que, de repente, apontam para uma prática e resultam em muita introspeção. Na última manifestação à volta deste caso, segundo vários relatos, houve jornalistas de varias partes do mundo incluindo a New York Times. Este é, de certeza, um caso que vai dar muito que falar.  O Jimmy Mubenga estava praticamente a ser sufocado enquanto os passageiros olhavam com indiferença. Mas é que, para muitos, ver um africano a ser maltratado é comum. O africano é, principalmente, maltratado por outros africanos.  Os governos africanos não respeitam os seus próprios cidadãos; é por isso que o resto do mundo sente que tem o direito de maltratar os africanos. Neste caso do Jimmy Mubenga, por exemplo, os angolanos no Reino Unido que deveriam incondicionalmente apoiar a família enlutada para que haja justiça andam divididos: uns insistem que o Jimmy Mubenga não foi Angolano mas Congolês.  Esta é uma alegação absurda; o Jimmy Mubenga, como eu, estava registado na embaixada Angolana em Londres como angolano, ponto final.

O papel da embaixada angolana em Londres neste episódio está a desiludir muitos. Um dos requisitos de liderança é aproveitar-se das oportunidades.  A liderança não é só dar grande festas em hotéis de cinco estrelas. Não há duvida que, por razões históricas etc, o relacionamento entre a embaixada de Angola e certos setores da comunidade tem sido frio. Este era o momento da representação oficial de Angola (e não do partido MPLA) no Reino Unido estender uma mão de amizade, por exemplo, à família enlutada. Não custaria nada a representação oficial de Angola no Reino Unido dizer que lamentava a morte do Jimmy Mubenga e falar sobre as medidas que o governo adotou para ajudar os angolanos deportados da Europa para adaptarem-se à sociedade. Ou será que tais medidas não existem?

Às vezes tenho a impressão de que a antiga correspondente da BBC em Angola, a Lara Pawson e os outros ativistas, estão mais interessados que haja uma certa justiça no caso Jimmy Mubenga do que os próprios angolanos. Mas mesmo se o Jimmy Mubenga fosse Congolês os angolanos teriam, também, o dever de manifestar a sua solidariedade para com ele. É que, para o resto do mundo, a diferença entre um Angolano e um Congolês não é assim tão óbvia. Se o momento chegar mesmo para dar nos pretos, o Angolano e o Congolês apanham juntos – e a sério.

Os passageiros a caminho de Luanda foram indiferentes aos gritos de Jimmy Mubenga porque, suspeito, muitos Ocidentais não estão confortáveis com o deslocamento dos Africanos pelo o mundo.  Vivemos num mundo globalizado.  Varias pessoas estão a viajar para todo lado a procura de oportunidades para melhorar a vida. A Austrália pertence aos Aborígenes; hoje o pais esta cheio de gente de origem Europeia que aos longos dos anos foram para lá para melhorarem a vida.  O continente Americano esta cheio de imigrantes Europeus – muitos deles que viajaram para cá recentemente.  Para muitos isto é normalíssimo.  O momento que o Africano tenta imigrar, porem, passa haver gritos por todos os lados.  A Irlanda foi, ate recentemente, um pais muito pobre. Uma das minhas primeiras tarefas jornalísticas profissionais foi na Irlanda do Norte.  Fiquei muito surpreendido ao notar a pobreza dos Irlandeses.  Mesmo quando cheguei a ir para a republica da Irlanda fiquei marcado pela a pobreza dos menos favorecidos.  Nos anos 90s, porem, houve uma transformação completa na Irlanda.  Os milhões vindos da Europa resultaram num boom jamais visto. De repente, muitos Polacos, Romenos, Búlgaros etc começaram a ir para aquele pais.  De repente, certos Africanos que notaram as grandes possibilidade que estavam por lá decidiram emigrar para certas localidades.  Houve, também, um numero de Africanos que foram lá pedir asilo político. Muitos locais ficaram enfurecidos.  

Em certos casos, as pessoas começaram a tirar os seus filhos de escolas que tinham muitos negros. Já que quem nasce na Irlanda tem automaticamente nacionalidade Irlandesa, houve historias, certas delas completamente infundadas, sobre batalhões de mulheres Africanas, todas grávidas, a tentar ir dar luz na Irlanda para que os seus filhos obtenham a nacionalidade Irlandesa.  O milagre Irlandês desfez-se; hoje os Irlandeses estão, também, a emigrar a procura de novas possibilidades. Se um deles for para a África e um governo Africano passar a lhe tratar mal, toda a comunidade Europeia estará por cima deste governo.  Os Europeus valorizam-se; os Africanos odeiam-se cada vez mais.  A tragédia do Jimmy Mubenge e muitos outros africanos a serem deportados no Ocidente devera é despertar os Africanos para haja mais justiça no nosso continente. Na Grã Bretanha vários políticos, intelectuais, e activistas gostariam de ver um inquérito serio a volta da morte do Jimmy Mubenga não necessariamente porque gostavam dele ou dos Africanos mais porque eles sentem que o estado que os representa tem que ter valores.  Muitos desses sabem que na história ignorar infrações deste genro pode, eventualmente, resultar em tiranias; hoje é um Jimmy Mubenga que é enforcado; amanha poderá mesmo ser um deles.

Nós, os Africanos, infelizmente ainda não adotamos a cultura de fazer exigências serias aos nossos lideres ou mesmo as nossas instituições. Neste espaço, alguns meses atrás, escrevi sobre um jornalista Camaronês, Bibi Ngota, que faleceu na cadeia porque as autoridades recusaram dar-lhe medicamentos, já que ele era hipertenso. A esposa do jornalista ate chegou mesmo de trazer os medicamentos para a cadeia mas as autoridades recusaram dar o homem o remédio. Varias organizações internacionais  manifestaram-se contra a atitude do governo Camaronês.  O que é interessante é que muitos Camaroneses acharam esta atitude tão nefasta do seu governo normalíssima. Digo que casos como o de Jimmy Mubenga poderão ter repercussões no continente africano porque tenho em mente o caso de Amadou Diallo, um jovem guineense que foi baleado á morte pela a policia em Nova Iorque em 1996. A comunidade negra insistiu que deveria não só haver um inquérito mais que os polícias deveriam ser julgados. Na Guine Conakry, os cidadãos foram acompanhando o caso atentamente.   No fim, a família de Amadou Diallo foi compensada com três milhões de dólares. No ano passado, na Guiné, a policia e os militares decidiram lidar com membros da oposição barbaramente; varias pessoas foram torturadas e ate mortas. O que foi tão significante é que os cidadãos começaram a documentar essas infrações e a exigir que os perpetradores fossem julgados. Isto resultou no derrube do então presidente Dadis Camara.

Sousa Jamba

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19.11.2010 | par martalanca | angolanos, congoleses, emigrantes, justiça