Exposição de Pintura “Formas, Kitandeiras e Zungueiras” de Francisco Van-Dúnem “VAN”

6 DE DEZEMBRO 18H30 Centro Cultural da Embaixada de Portugal 

lançamento do livro Esse País Chamado Corpo de Mulher de José Luís Mendonça

e inauguração da exposição “Formas, Kitandeiras e Zungueiras” do artista plástico angolano Francisco Van-Dúnem “VAN”. 

“Formas, Kitandeiras & Zungueiras” é um projecto que nasce da necessidade de mostrar ao público amante das artes plásticas um interessante conjunto de obras onde o autor aborda, plasticamente, a mulher no mercado informal de trabalho.

Esta colecção de trabalhos que VAN apresenta agora caracteriza-se por uma forte marca de angolanidade, onde o autor atesta a sua preocupação com os aspectos sócio-culturais do povo angolano, o lado plástico-poético e tradicional da actividade das Kitandeiras e das Zungueiras é aqui combinado com o lugar heróico que estas mulheres ocupam na história da sobrevivência de muitas famílias angolanas. Não é a primeira vez que o artista aborda esta temática, mas desta feito fá-lo com uma entrega particular, votando-lhe a centralidade temática patente em todo o universo das obras.

VAN já nos habituou a vê-lo fazer recurso a técnicas e experiências arrojadas, pois a sua condição de artista angolano, africano e universal, mas sobretudo contemporâneo, permite-lhe um espaço e uma forma de intervenção independente de convenções predefinidas.

Henry Chamberlain - Quitandeiras da LapaHenry Chamberlain - Quitandeiras da Lapa

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José Luís Mendonça José Luís Mendonça José Luís Mendonça fez a sua aparição no mundo das letras, com “Chuva Novembrina”, obra à qual foi atribuído em 1981 o Prémio Sagrada Esperança pelo INALD - Instituto Nacional do Livro e do Disco, que repetiria este galardão à obra “Quero Acordar a Alva”, em 1996. O professor Manuel Ferreira considerou-o nessa altura, como “(…) uma das vozes poéticas que continuam e vão prolongar o prestígio da melhor poesia angolana.”

Fazendo jus à premonição de Manuel Ferreira, José Luís Mendonça lança um novo volume de 52 de poemas intitulados “Esse País Chamado Corpo de Mulher”, sobre o qual o apresentador da obra em Luanda, Avelino Sande, diz que “é mais um exercício de sonhar acordado a que o autor já nos habituou. Desta feita, para JLM, sonhar acordado é fazer fluir a poesia como grãos de areia numa ampulheta que se vai retornando a cada pagina. As palavras amontoam-se em pequenas dunas com formas de mulher. Mulheres de prata.  Mulheres de porcelana, portáteis, de carregar pelo bolso, mulheres indolores, fáceis de manejar: elásticas, subtis ao ponto de ficarem ao avesso, mulheres satânicas, mulheres de areia, puro exercício de linguagem.”

A obra, produzida entre Dezembro de 2009 e Maio de 2011, parte de um exercício introspectivo que vem expresso na introdução, à página 9, como uma “Véspera do verso: Certas mulheres têm ventres de porcelana lisos e plenos de lanternas húmidas. O meu espírito persegue o trilho hormonal dos elefantes que vão ao lusco-fusco beber as sombras das nações sentadas na curva dos seus tornozelos. Nos seus olhos escuto o canto lúbrico da dikanza e cada um dos provérbios escritos na sua pele me ensina os fundamentos da cidadania do verso e seus patamares de alegria.”  

A obra, produzida entre Dezembro de 2009 e Maio de 2011, parte de um exercício introspectivo que vem expresso na introdução, à página 9, como uma “Véspera do verso: Certas mulheres têm ventres de porcelana lisos e plenos de lanternas húmidas. O meu espírito persegue o trilho hormonal dos elefantes que vão ao lusco-fusco beber as sombras das nações sentadas na curva dos seus tornozelos. Nos seus olhos escuto o canto lúbrico da dikanza e cada um dos provérbios escritos na sua pele me ensina os fundamentos da cidadania do verso e seus patamares de alegria.”  

28.11.2012 | par martalanca | José Luís Mendonça, Van

Lançamento de livro do José Luís Mendonça

Poesia Manuscrita pelos Hipocampos de José Luís Mendonça (Chá de Caxinde) - apresentação em mesa redonda pelos escritores e professores Abreu Paxe e  António Quino na União  dos Escritores Angolanos, 23 de setembro, às 18 h.
pintura de Thó Simõespintura de Thó Simões“No princípio era o hipocampo. E o hipocampo se fez poema e habitou entre nós. A sua beleza ofuscava. As suas crinas acendiam a luz do mundo e o seu voo milimétrico exumava o sal da Terra. Com essa luz e esse sal modelávamos a alma do tempo no interior de uma percussão de marimbas. “E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares. [Génesis 1:9,10]” Então o hipocampo abraçou as correntes marítimas, o poema se fez mar e, nas esquinas do tempo, ficou apenas uma arqueologia de estrofes, sinais de búzios gravados em inesperada poeira de estrita ressonância mitológica. Comecei a ler e a registar as marcas da escrita dos hipocampos em 2004, quando circulava por Dakar, Senegal. Em 2006, na Índia, Chenai, eles cantaram e dançaram para mim nos grandes boulevards de solidão interior, em momentâneos sonhos. A partir desse ano, fui atirado como o “batêau ivre” de Rimbaud, para dentro da grande corrente fria de Benguela onde me vi subitamente escorté des hippocampes noirs. Ao desembarcar, recolhi, decifrei e restaurei a grande maioria dos seus manuscritos sobrantes nas praias do Cabo Ledo, província do Bengo, na baía de Luanda, na Ilha de Nossa Senhora do Cabo e noutras cidades costeiras de Angola. A minha estadia em Paris, a partir de 2008, permitiu recuperar outros resquícios do mar da memória. São esses versos ou falas de hipocampos, linguagem do sal e das águas, linguagem da intimidade revelada à luz branca de cada página, que esses minúsculos peixes-cavalo aqui dão à estampa”.

17.09.2010 | par martalanca | hipocampos, José Luís Mendonça