As cores da infâmia de Albert Cossery I Reedição

TRADUÇÃO Ernesto Sampaio

 

Não há nada de mais imoral do que roubar sem riscos. É o risco que nos diferencia dos banqueiros e dos seus émulos que praticam o roubo legalizado com a cobertura do governo.
  
Albert Cossery (1913-2008), em As Cores da Infâmia (1999), continua a perseguir a imbecilidade dos grandes deste mundo, para ele uma fonte de inspiração inesgotável. No seu derradeiro livro, o mestre da preguiça e ocioso impenitente prossegue a gesta dos anti-heróis das ruelas do Cairo e conta a história de um ladrão inteligente e irónico que encontra na carteira de um promotor imobiliário sem escrúpulos uma carta que prova a sua responsabilidade no desabamento de um prédio de aluguer, causando a morte dos pobres inquilinos.
Para este escritor egípcio de língua francesa, que nasceu no Cairo e viveu desde 1945 num quarto de hotel em Paris, «não fazer nada é uma actividade interior», daí ter sido preciso esperar quinze anos por este último romance, onde são abordados todos os seus temas predilectos: o ódio aos nababos, a ironia em relação ao poder e o desejo de ver triunfar as únicas criaturas credoras da sua consideração, ou seja, aquelas que perceberam que a vida é outra coisa, e nada tem a ver com a posse de bens materiais.

23.11.2016 | par martalanca | Albert Cossery, As cores da infâmia

Le combat immémorial contre l'oppression

“Seul parmi les habitants de Dofa, Hicham souffrait dans son âme de ne pouvoir partager les fatigues et les dangers de ces résistants anonymes qui livraient le combat immémorial contre l’oppression. Il était pris d’une passion irrésistible pour ces hommes couragueux qui sacrifiaient les commodités de l’existence à une cause malheureuse mais qui honorait l’humanité. Malgré lui la chanson qu’il improvisait en s’accompagnant de la tabla prenait un ton de revolte et d’insoumission au destin. C’était toujours une chanson d’amour, mais elle racontait un amour de pauvres, un amour contrarié par la misère et non par l’éloignement d’une beauté inaccessible. Il était effrayé par les paroles haineuses lui qui n’avait jamais connu la haine qui s’insinuaient dans son chant avec une facilité déconcertante et que sa voix modulait  avec un accent de triomphe. Ce n’était plus la complainte inconsolable, mais le cri de celui qui appelle le règne de la terreur  et voue à la mort les tyrans. Et il ressentait ce changement avec l’ivresse de l’artiste qui découvre enfin la vérité de son message.”

Albert Cossery, Uma Ambição no Deserto (1984)

14.02.2011 | par martalanca | Albert Cossery, Cairo, deserto