A cozinha da “República dos Meninos” de Flora Gomes

Nas instalações do SAVANA funciona por estes dias o departamento de produção artística do filme “República dos Meninos”, do realizador guineense Flora Gomes. “Esta é a minha cozinha”, diz Tim Pannen, director artístico, referindo-se ao seu departamento, onde dirige uma equipa de cerca de vinte artistas, pintores, carpinteiros e serralheiros.
Como já se viu, não se trata de uma simples carpintaria ou de uma simples serrelharia como se pode pensar à primeira vista, mas sim de um lugar onde a arte, o espírito e a alma também falam mais alto. Os jornalistas do SAVANA têm é que se contentar com o barulho dos martelos e das rebarbadeiras, mas por pouco tempo. Só enquanto estiver a ser rodado o filme.
A primeira pessoa a ver o guião escrito pelo realizador Flora Gomes é o director artístico – é a ele que cabe o papel de conceber o cenário da “República dos Meninos”. “É como ter uma receita e ainda não ter o prato. É desta cozinha que irá sair o prato. E eu sou o chefe de cozinha”, elucida o produtor alemão.
Tim Pannen contou-nos que somente conheceu Flora Gomes depois de ser contactado para fazer a produção artística do filme dele. Estiveram lado a lado durante a viagem para Moçambique, com o Flora a desconfiar dele, pois não conhecia o seu trabalho, sobretudo porque ele é um alemão com o papel de conceber um cenário africano. As filmagens já vão a meio.
O produtor artistico já tinha lido o guião e depois de alguns dias de trabalho, estava a África da “República dos Meninos” a ser aos poucos concebida. Ele, que exerce a sua actividade como free lancer, trabalha em seu departamento com 20 colaboradores, entre os quais uma boa parte deles são moçambicanos. “Gostei de Maputo”, diz, referindo-se ao facto de ter encontrado os melhores lugares para criar os cenários do filme.  Longa-metragem “República dos Meninos” é o título de uma longa-metragem cujas filmagens decorrem em Maputo há sensivelmente três meses, numa iniciativa que conta com a participação de profissionais do cinema vindos de Hollywood, Estados Unidos da América. O conteúdo do filme procura espelhar a nova geração em África, onde as crianças participantes são tidas como indivíduos que poderão salvar o actual rosto do continente.
Trata-se de um filme de ficção, uma história em que o autor fala das crianças no continente africano. “São crianças que poderão mudar a cara de África, é uma nova geração que tem ideias e são uma grande esperança para o continente”, segundo Flora Gomes.
O realizador disse que Maputo reúne todas as condições necessárias para a rodagem de grandes produções cinematógraficas. Esta é a quinta longa-metragem do realizador, sendo que a primeira tem como título “Morto Nega” que fala sobre a libertação da Guiné-Bissau, a segunda com o título “Os Olhos Desde Ontem”, a terceira com o título “Pó de Sangue” e a quarta com o título “Nha Fala, Minha Voz”, uma comédia musical com a participação da banda do conceituado músico, Mano Dibango. Os três primeiros filmes do cineasta mereceram destaques no festival de Cannes em França.
Depois de Moçambique, Flora Gomes estará em Portugal onde pretende fazer os arranjos da sua quinta longa-metragem que deve estar concluída até final do ano.

Escrito por Armando Nenane no SAVANA

23.06.2010 | par martalanca | Flora Gomes