Tchiloli Florentina de Caixão Grande

 

Tirei estas fotografias enquanto a equipa da Terratreme filmava a representação abreviada (pode chegar a durar 6 horas) da Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno, pelo grupo de Tchiloli Florentina de Caixão Grande. Foi em jullho de 2013 durante a rodagem do filme de S. Tomé e Príncipe, de Luísa Homem e Tiago Hespanha, o 4ª da série No Trilho dos Naturalistas. 

As pessoas da aldeia já teriam visto esta tragédia vezes sem conta, assim como o grupo a vem representando de geração em geração introduzindo, muito espaçadamente, um adereço ou outro. Neste momento, a minha atenção não se prendia tanto com a questão performativa ou temática desta intrigante tradição. Tampouco queria “etnografar” o ambiente ou fazer grandes fotografias. Ia-me entretendo a observar fragmentos: o simultânea e desencontrado olhar entre público (que olhava para os actores e para nós) e os cineastas, cada qual concentrado em interesses diferenciados. Os figurantes em tempos de espera, com a maior paciência do mundo mas algo enfastiados. A duração interminável, o calor, uma flauta, uma dança, uma fotografia aqui e acolá.

O tchiloli tem lugar na terra batida de um quintal ou numa praça pública, preservando o carácter didático e comunitário do palco aberto, observável de todos os ângulos. Num extremo do palco ergue-se a corte alta sobre estacas de madeira, coberta com ramos de palmeira, representando o palácio imperial. No lado oposto, no chão, a palhota feita de ramos verdes representa a corte baixa da família enlutada dos Mântua. Durante a apresentação, um pequeno caixão colocado numa cadeira no meio do palco simboliza o defunto Valdevinos. 

Já tinha assistido a Tchiloli em duas viagens anteriores a estas ilhas. É sempre impactante. Por mais que se trace a genealogia destas tragédias, o mistério permanece. Como passar estas imagens sem as exotizar?

 Ler sobre o Tchiloli aqui e aqui.