“A luta continua e a reação não passará!? O Iliberalismo contra a Democratização em Angola e Moçambique no século XXI”, de Nuno de Fragoso Vidal & Justino Pinto de Andrade

A Editora/Livraria Sá da Costa, em conjunto com os autores e a Associação Cultural Chá de Caxinde, tem a honra de a/o convidar para o lançamento do livro: “A luta continua e a reação não passará!? O Iliberalismo contra a Democratização em Angola e Moçambique no século XXI”, de Nuno de Fragoso Vidal & Justino Pinto de Andrade, que se realiza no dia 18 de novembro, pelas 17h30, na galeria da Sá da Costa, Rua Serpa Pinto, 19, Lisboa.
Participações:Malyn Newitt; Bruno Ferreira da Costa; Luca Bussotti; Jean-Michel Mabeko-Tali; Reginaldo Silva; David Boio; Domingos da Cruz; Sérgio Dundão; Mihaela Neto Webba; Florita Cuhanga António Telo; Maria Judite Chipenembe; Baltazar Muianga; Eugénio Costa Almeida; Paula Roque; Fernando Pacheco; Maria da Imaculada Melo.
Apresentação analítica crítica:Alexandra Dias Santos&Alberto Oliveira Pinto,seguida de discussão com os autores e alguns co-autores da obra.Coordenador da organização: Francisco de Pina QueirozA mesa conta ainda com as presenças de José Sousa Machado em representação da Editora Sá da Costa e de Jacques dos Santos, da Associação Chá de Caxinde (organização parceira do projeto).De acordo com Malyn D. Newitt (King’s College London), autor do prefácio “aquilo que efectivamente tem sido a governação de partido único nos dois países levou não somente à manipulação das eleições que mantém os partidos governantes no poder, mas também a uma sistemática negligência e, em alguns casos, simples negação dos direitos humanos da população, que tem sido em todos os aspectos tão extrema quanto o foi sob o regime colonial. (…)”, considerando também “essencial que aqueles que monitorizam a democracia e os direitos humanos sejam capazes de tornar públicas as suas análises, avaliações e conclusões. (…) O tipo de estudos como estes que se apresentam neste volume, que têm sido pesquisados com profundidade, revistos e escrutinados de forma independente, apresentam-se por si só como exemplos de esperança e sinais para a possibilidade de um futuro mais justo e igualitário.”O livro terá um custo de 20€Existirão disponíveis outros livros do mesmo projecto científico.

14.11.2023 | by martalanca | angola, de Nuno de Fragoso Vidal & Justino Pinto de Andrade, democracia, “A luta continua e a reação não passará!? O Liberalismo contra a Democratização em Angola e Moçambique no século XXI”

Terra e Democracia

segundas, 19-23h, sala 105,  FFLCH, https://edisciplinas.usp.br/course/view.php?id=112797

Jean Tible jeantible@usp.br

Em Discurso sobre a origem os fundamentos da desigualdade entre os homens (1754), Jean-Jacques Rousseau situa a questão da propriedade da terra como cerne da irrupção da desigualdade. Em célebre passagem, o filósofo de Genebra imagina essa virada: “O primeiro que, tendo cercado um terreno, atreveu-se a dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas simples o suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, quantas misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, houvesse gritado aos seus semelhantes: ‘Evitai ouvir esse impostor. Estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não é de ninguém!’”

A questão dos cercamentos aparece em contexto bastante distinto, em publicação recente (2010) de um pensamento antigo. O que costumamos chamar de “meio ambiente”, insiste Davi Kopenawa em A queda do céu, é composto tanto por humanos quanto pelos “xapiri, os animais, as árvores, os rios, os peixes, o céu, a chuva, o vento e o sol! É tudo o que veio à existência na floresta, longe dos brancos; tudo o que ainda não tem cerca. As palavras da ecologia são nossas antigas palavras, as que Omama deu a nossos ancestrais”. Os processos de colonização buscam ignorar e aniquilar essa multiplicidade de seres-habitantes dessas espacialidades. Pode-se compreender desse modo o conceito jurídico de terra nullius – clássica aspiração tirânico da página em branco sobre a qual escreve fortes páginas Naomi Klein em A doutrina do choque, analisando os planos neoliberais do poder dos anos 1970 para cá.

Em seus estudos acerca do sistema político-econômico capitalista ao qual se dedicou toda sua vida, Karl Marx opõe a propriedade comunal – que seria no princípio generalizada – à privada. Se nos Manuscritos Parisienses (1844), o pensador europeu caracteriza “a propriedade fundiária” como “raiz da propriedade privada”, em A nacionalização da terra (1872) defende que “a propriedade do solo é a fonte original de toda riqueza, e ela se transformou no grande problema cuja solução determinará o futuro da classe operária”. Salienta, ademais, que juristas, filósofos e economistas “disfarçam esse fait initial da conquista sob o argumento do ‘direito natural’” – evidentemente direito natural de alguns. Seu primeiro texto sobre uma questão material, no qual acompanha a discussão na Dieta renana para definir se a prática tradicional de colheita da lenha por parte dos pobres configurava-se num roubo ou não. Com a madeira valorizada por sua integração no circuito mercantil, havia uma pressão dos proprietários de terra para transformar a colheita da lenha em delito. A alternativa a isto seria sua manutenção como bem para satisfação de necessidades elementares e um embate, então, ocorre entre duas formas de direito, o de propriedade e o dos costumes, que incluía direito de passagem, de pasto e colheita de lenha. Estava, assim, em jogo a definição da propriedade.

Tal questão da terra é onipresente em certos debates político-intelectuais. Ativo participante da República dos Conselhos da Bavária em 1919, o poeta e anarquista Gustav Landauer percebe “o combate do socialismo” como “um combate pelo solo”. O capitalismo somente existe pelo fato de as “massas serem sem-terra” e a revolução se sintoniza com uma grande transformação no regime da propriedade fundiária, na qual o chão “volta a ser o portador da vida comum e da obra comum”. Em outro contexto, movimentos formulam essa antiquíssima demanda por justiça com o lema de terra e liberdade, do México revolucionário e da resistência ao jugo czarista à Catalunha em ebulição passando pela multiplicidade de mobilizações camponesas atravessando tempos e espaços.

Propõe-se, desse modo, estudar essas questões, da terra e da democracia, articuladas. Tal esforço é efetuado a partir do Brasil, mas em conexão com processos de outras partes do planeta. Num primeiro momento, trata-se de compreender o surgimento do capitalismo e seu longo confronto com práticas de coletividades dissidentes, desde as comunidades anabatistas no século 16 no coração da Europa às organizações comunais dos povos indígenas, quilombolas e camponeses nas Américas. A segunda parte busca apreender a privatização da terra em três sessões: a história do Brasil, desde seu início, como apropriação fundiária; a atuação do ator econômico e político do agronegócio e o caso californiano de articulação entre acaparamento de terras rurais e economia carcerária.

A seção final do curso se dedica a experiências de retomadas, com dois exemplos históricos (a cabanagem, no Pará do início do século 19 e a revolução no México em 1910) e de um caso contemporâneo no extremo-sul da cidade de São Paulo. No fim de sua vida, Marx se debruça, para a redação do volume 3 de O Capital, sobre as sociedades agrárias. Recebe do historiador russo Kovalevsky seu livro Obshchinnoe Zemlevladenie e (re)pensa a distinção entre posse e propriedade da terra e sublinha a impossibilidade de aplicar o mesmo conceito de ‘propriedade’ usado para a Europa, para estudar sociedades onde a terra não pode ser alienada (vendida). Marx troca, num ponto que Oswald de Andrade enfatizará depois, sistematicamente “propriedade” por “posse” nesses chamados Cadernos Kovalevsky, indicando a comunidade/comuna como proprietária, ou melhor, possuidora da terra. À apropriação capitalista, pode ser contraposta outra, a reapropriação como retomada. Essa palavra não diz respeito a um tomar para si e ser dono absoluto de uma terra a ser dominada, mas de conviver e adaptar-se a ela, em consonância com os desafios urgentes (dada a emergência climática) de outras compreensões de naturezas-culturas e com inúmeras práticas cotidianas dos povos da terra. Por fim, a última sessão é dedicada à um debate a respeito dos elos costurados entre lutas pela terra e aspirações democráticas.

14 de agosto

abertura

Davi Kopenawa e Bruce Albert. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami.

São Paulo, Companhia das Letras, 2015 [cap. 23. O espírito da floresta].

Gustav Landauer. “The settlement” (1909) em Gabriel Kuhn (org.) Revolution and Other Writings: A Political Reader. Oakland, PM Press, 2010.

Manuela Carneiro da Cunha. “Povos da megadiversidade: o que mudou na política indigenista no último meio século”. Revista Piauí, n. 148, janeiro de 2019.

Habitantes da ZAD, Notre-Dame-des-Landes. Tomar a terra. São Paulo, Glac, 2021 [2019].

José Celso Martinez Corrêa. Sertões: histórias de Canudos. Instituto Moreira Salles, 3 de julho de 2019.

terras cercadas

21 de agosto

cristãos, comunistas, hereges

Friedrich Engels. “As guerras camponesas na Alemanha” (1850) em A Revolução antes da revolução – Vol. 1. São Paulo, Expressão Popular, 2008. [trecho]

Ernst Bloch. Thomas Müntzer, teólogo da revolução. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1973 [1921]. [trecho]

complementar:

Thomas Müntzer. Sermão aos príncipes, 1524.

Dagmar Talga. O Voo da Primavera (2019) - documentário sobre a vida de dom Tomás Balduíno.

28 de agosto

comum contra capital

Karl Marx. Os despossuídos: debates sobre a lei referente ao furto de madeira. São Paulo, Boitempo, 2017 [1842]. [trecho]

Karl Marx. O Capital: crítica da economia política (livro 1: o processo de produção do capital). São Paulo, Boitempo, 2013 [1867] [Capítulo 24 – A Chamada Acumulação Original].

complementar:

Troca de cartas entre Karl Marx e Vera Ivanovna Zasulitch (1881) em Michael Löwy (org.) Lutas de classes na Rússia. São Paulo, Boitempo, 2013. [trecho]

Pierre-Joseph Proudhon. O que é a propriedade? ou Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo. São Paulo, Martins Fontes, 1988 [1840]. [capítulos 1 e 2]                      

4 de setembro

antagonismo ameríndio

com Marina Ghirotto Santos e Salvador Schavelzon

Marina Ghirotto Santos. Conversas com florestas viventes: política, gênero e festa em Sarayaku (Amazônia equatoriana). Tese de doutorado em Antropologia Social, FFLCH/USP, 2023 [cap. 3 Terra: formas de cuidar e viver bonito].

complementar:

Ailton Krenak. “A Aliança dos Povos da Floresta” (entrevista de A. Krenak e Osmarino Amâncio, por Beto Ricardo e André Villas Boas, 10 de maio de 1989) em Sergio Cohn (org.) Encontros. Rio de Janeiro, Azougue, 2015.

Edward Valandra. “Mni Wiconi: water is [more than] life” em Nick Estes e Jaskiran Dhillon (orgs.). Standing with Standing Rock: Voices from the #NoDAPL Movement. Minnesota, University of Minnesota Press, 2019.

11 de setembro

brasil quilombola, terra preta

com Salloma Salomão e Ronaldo Santos

Antônio Bispo dos Santos. A terra dá, a terra quer. São Paulo, Ubu e Piseagrama, 2023.

Mariléa de Almeida. Devir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas. São Paulo, Elefante, 2022. [introdução e capítulo 1]

complementar:

Joelson Ferreira de Oliveira. “Terra Vista, Terra-Mãe: Existência grandiosa no campo”. Caderno de Leituras n. 111 Série Políticas da terra. Edições Chão da Feira, Belo Horizonte, agosto de 2020.

Flávio dos Santos Gomes. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. São Paulo, Claro Enigma, 2015. [trecho]

Clóvis Moura. Sociologia política da guerra camponesa de Canudos: da destruição do Belo Monte ao aparecimento do MST. São Paulo, Expressão Popular, 2000. [trecho]

propriedade fundiária, nó do brasil (e do mundo)

25 de setembro

A grilagem como fundamento

com Gustavo Prieto e Douglas Rodrigues Barros

Gustavo Prieto. “Nacional por usurpação: a grilagem de terras como fundamento da formação territorial brasileira” em Ariovaldo Umbelino de Oliveira (org.). A grilagem de terras na formação territorial brasileira. São Paulo, FFLCH/USP, 2020.

complementar:

Ariovaldo Umbelino Oliveira, Camila Salles de Faria e Teresa Paris Buarque de Hollanda. “Registros Públicos e Recuperação de Terras Públicas – Relatório Final”. Série Pensando o Direito n. 48, Brasília, Ministério da Justiça, 2012.

Douglas Rodrigues Barros. “O agro realmente é pop: sobre a hegemonia do sertanejo na era da pós-música”. Revista Rosa, vol. 7, março de 2023.

2 de outubro

O agronegócio

com Yamila Goldfarb e Caio Pompeia

Marco Antonio Mitidiero Junior e Yamila Goldfarb. O Agro não é Tech, o Agro não é Pop e Muito Menos Tudo. São Paulo, ABRA e FES Brasil, 2021.

Caio Pompeia. Formação política do agronegócio. São Paulo, Elefante, 2021. [trecho]

complementar:

Yamila Goldfarb. “Reforma agrária como política de reparação histórica para a população negra no Brasil”. Campo-Território: revista de Geografia Agrária, Uberlândia-MG, v.18, n.49, p. 330-344, abr. 2023.

Caio Pompeia. “Uma etnografia do Instituto Pensar Agropecuária”. Mana, 28 (2), 2022.

9 de outubro

Ajuste prisional: terras rurais e economia carcerária

com Bruno Xavier Martins

Ruth Wilson Gilmore. Golden gulag: prison, surplus, crisis, and opposition in globalizing. Los Angeles, University of California Press, 2007. [no prelo, São Paulo, Igrá Kniga, 2023, tradução de Bruno Xavier Martins]. [trecho]

complementar:

Jackie Wang. Capitalismo carcerário. São Paulo, Igrá Kniga, 2022 [2018] [capítulo 4].

terra habitada

23 de outubro

Cabanagem

com Charles Trocate

Pasquale Di Paolo. Cabanagem, a revolução popular da Amazônia. Belém, Cejup, 1990.

Domingos Antônio Raiol. Motins políticos ou, História dos principais acontecimentos políticos da província do Pará desde o ano de 1821 até 1835. Belém, Universidade Federal do Pará, 1970.

Vicente Salles. Memorial da Cabanagem: esboço do pensamento político-revolucionário no Grão-Pará. Belém, Cejup, 1990.

Mark Harris. Rebelião na Amazônia: Cabanagem, Raça e Cultura Popular no Norte do

Brasil (1798-1840). Campinas, Unicamp, 2018.
Décio Freitas. A miserável revolução das classes infames. Rio de Janeiro, Record, 2005.

Célia Maracajá. O auto da cabanagem.

30 de outubro

Tierra y libertad (México, 1910)

com Cassio Brancaleone e Ester Rizzi

Manifiesto de Partido Liberal Mexicano. Regeneración Tomo IV, No. 56 Los Ángeles, California. 23 de septiembre de 1911.

INEHRM (org). El plan de ayala (1911). Mexico, Fondo de Cultura, 2019.

Rubén Trejo Muñoz. “Vínculos entre los zapatistas y los magonistas durante la Revolución Mexicana”, UACM, 2020.

complementar:

Cassio Brancaleone. “Revolução mexicana, magonismo e anarquismo” em Beatriz Silvério e Fernanda Grigolin (orgs.). Infatigável guerrilheira: Margarita Ortega Valdés na Revolução Mexicana. São Paulo, Tenda de Livros, 2022.

Ester Gammardella Rizzi. Revolução Mexicana - O direito em tempos de transformação social. São Paulo, Expressão Popular, 2023. [capítulo 2 “O Direito e a organização fundiária mexicana”].  

6 de novembro

retomadas

com Jerá Guarani, Lucas Keese e Lauriene Seraguza

[domingo 5 de novembro – dia na Kalipety]

Jerá Guarani. “Tornar-se selvagem”. Piseagrama, n. 14, p. 12-19, jul. 2020.

Lucas Keese dos Santos. A esquiva do Xondaro: movimento e ação política entre os Guarani Mbya. São Paulo, Elefante, 2021. [capítulo 4: esquiva e resistência histórica]

Lauriene Seraguza. As donas do fogo: política e parentesco no mundo guarani. Tese de doutorado em Antropologia Social, FFLCH/USP, 2023 [trecho do capítulo 3: corpos de reservas, vidas em retomadas].

13 de novembro

debate de encerramento ao ar livre na casa líquida [perto do metrô Sumaré]:

apropriação coletiva e territórios libertos

com Mauro William Barbosa de Almeida

11.08.2023 | by martalanca | ameríndio, antagonismo, comunistas, cristãos, curso, democracia, hereges, terra

FesThink de 11 a 12 de junho

A Festa do Pensamento, parte integrante do New European Bauhaus Festival, vai debater temas como crise climática, justiça social, democracia ou racismo, através da música, poesia, leitura dramática e oficinas, no Solar dos Zagallos, em Almada.

 

No fim de semana de 11 e 12 de junho, o Solar dos Zagallos, na Sobreda, vai receber concertos, debates, oficinas e leituras dramáticas, que vão envolver o público diretamente na ação. 

Trata-se de uma festa para celebrar uma das principais características da humanidade: a faculdade de pensar. A Festhink - festa do pensamento - propõe uma reflexão conjunta de filósofos, atores, músicos, arquitetos, jornalistas e também do público, de todas as idades, sobre temas que, sendo profundos, tocam-nos da forma mais banal no nosso dia a dia, como a crise climática, a justiça social, o racismo ou a democracia.

A FesThink procura trazer a arte do diálogo para o centro das relações sociais e contribuir ainda para a disseminação do pensamento crítico na sociedade, como ação política, mas também de fruição.

O Comissário do Plano Nacional das Artes, o docente, ensaísta e curador Paulo Pires do Vale; o Professor Catedrático do Departamento de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa, João Constâncio; o arquiteto e escritor vencedor do Prémio Leya 2021, José Carlos Barros; a ativista interseccional e artista multidisciplinar Nuna; a filósofa do ambiente Sofia Guedes Vaz; o filósofo e músico Bartholomew Ryan; a atriz Rita Durão; o autor da banda sonora da série “Coisa Mais Linda”, o brasileiro João Erbetta e a Academia de Música de Almada são alguns dos vários nomes que vão protagonizar uma programação transdisciplinar, que junta o exercício de pensar ao de imaginar. Confira a lista de todos os participantes aqui.

A programação abre com a palestra/oficina A Arte de Florescer, que vai explorar as possibilidades de uma vida ecológica na filosofia e na arte como uma forma de coexistência, criativa e crítica. No Jardim do Solar dos Zagallos, os participantes serão convidados à prática de pequenos exercícios de observação do que está à volta. Os debates serão entrecortados por música, leitura perfomática e de poemas. Confira a programação completa aqui.

Os dois dias da Festa serão apenas o início de um projeto que pretende envolver a comunidade de Sobreda ao longo do ano, levando a uma nova Festa em 2023, revela a Diretora da FesThink, Mirna Queiroz: “A convocação para a reflexão não se furta ao sentido prático do conhecimento. O que define a FesThink é a ideia de “Refazer o mundo”. Com isso, coleccionamos e, de certa forma, contamos projetos que buscam uma ideia de reconstrução a partir da cidade, do bairro, da escola, de casa, obedecendo a uma lógica que privilegie as relações nas suas múltiplas dimensões. Como propõe a filosofia andina do “bem viver”, o FesThink expressa-se através de uma noção de memória e horizonte. Tradição e Vanguarda. Passado e futuro. Sem perder de vista a urgência do agora. No final deste ano de ocupação, novamente a Festa, para celebrar o feito e apontar um novo desafio.”

Festa é um dos capítulos de Festival internacional

A FesThink integra o New European Bauhaus Festival, uma iniciativa da União Europeia que reúne pessoas de todas as esferas da vida para debater e moldar um futuro mais sustentável.

Os principais temas do Festival são beleza, sustentabilidade e inclusão. Compartilha os mesmos objetivos da FesThink, de construir conexões entre diferentes atividades e indivíduos, entre os mundos da pesquisa, ciência e tecnologia, aos da educação e engajamento civil, da arte e da cultura.

O quê?
Festhink - Festa do pensamento
Todas as sessões são gratuitas (sujeito a lotação do espaço)

Onde?
Solar dos Zagallos, 
Largo António José Piano Júnior, Sobreda, Almada

Quando?
Dia 11 das 10h às 18:30
Dia 12 das 15h às 19:45.

Nota. Por cortesia, a equipe do Zagallos oferece uma visita guiada pelo Solar, imponente edifício construído no século XVII, no dia 12, das 11h às 12h. As inscrições podem ser feitas pelo seguinte email: solar@cma.m-almada.pt 

10.06.2022 | by Alícia Gaspar | Almada, concertos, crise climática, cultura, debates, democracia, festa do pensamento, FesThink, justiça social, leituras dramáticas, oficinas, pensar em conjunto, racismo

Temos de Falar, à conversa com Gisela Casimiro

TEMOS DE FALAR é como Gisela Casimiro ocupa o Lugar de Cultura, com apoio da CML. Conversas mensais com pessoas que são apaixonadas pelo que fazem e uma inspiração para a artista e para muitos.

A próxima é já esta Sexta 22 de Abril, às 18h.

Paula Cardoso - jornalista, fundadora da rede Afrolink @afrolink.pt e autora da série de livros “Força Africana”.
 

Manuel Arriaga - Professor na NYU e Cambridge, Fundador do Fórum dos Cidadãos e autor de “Reinventar a Democracia”.

Em Abril trazem-nos ferramentas para a liberdade e a garantia de memória futura, pela acção e empoderamento cívico.

Local: Livraria Barata @livrariabarata , Avenida de Roma 11A.

 

21.04.2022 | by Alícia Gaspar | Afrolink, democracia, Gisela Casimiro, livraria barata, manuel arriaga, paula Cardoso, temos de falar

Voto Negro

Voto Negro é uma campanha de mobilização do voto que pretende combater a abstenção e a exclusão social e política dos afrodescendentes em Portugal.

Com o objetivo de aproximar a política de todos os cidadãos e relembrar que o voto é também um mecanismo de transformação social, o Voto Negro surge como um espaço de informação, onde será possível consultar as propostas de todos os partidos candidatos às eleições legislativas de 2022 no âmbito da discriminação e igualdade étnico-racial.

A equipa do Voto Negro pretende ainda contextualizar a situação dos direitos e integração dos Afrodescendentes em Portugal, recorrendo a estudos e pareceres nacionais e internacionais. 

Acreditamos que a sub-representação e marginalização dos afrodescendentes nos processos de decisão política pode ser combatida através do acesso à nacionalidade portuguesa. Assim, o Voto Negro pretende também informar, de forma clara e objetiva, quem está em condições de requerer a nacionalidade portuguesa, nomeadamente os novos perfis previstos na lei (após as últimas alterações de 2020) referentes a filhos de estrangeiros.

O Voto Negro é uma campanha apartidária que pretende contribuir para um voto informado e refletido, independentemente de preferências ideológicas. Nesse sentido, todos os programas eleitorais serão apresentados, tendo em conta as propostas que envolvam questões étnico-raciais.

Para alcançar o maior número possível de eleitores informados nas próximas eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022, pedimos o vosso apoio e divulgação das páginas Voto Negro no Instagram e Facebook, onde iremos publicar todos os conteúdos.

https://www.instagram.com/votonegro2022/

https://www.facebook.com/votonegro2022

Muito obrigada, A equipa Voto Negro

 

 

13.01.2022 | by martalanca | democracia, Voto Negro

2ª Mostra Taturana de Cinema

A 2ª Mostra Taturana de Cinema: Democracia e Antirracismo, realizada em parceria com a Coalizão Negra por Direitos, Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e Wonder Maria Filmes (Portugal), reúne curtas e longas-metragens documentais, brasileiros e de outros países, sob a premissa de que não é possível falar em democracia sem se comprometer com a luta antirracista. A Mostra acontece nos dois países de 14 a 19 de setembro, semana em que se celebra o Dia Internacional da Democracia.

Se a imagem desempenha um papel fundamental na sociedade contemporânea, para falar em democracia também é necessário descolonizar o olhar.

Da perspectiva do racismo estrutural – quando as práticas institucionais, históricas, culturais e interpessoais inferiorizam e prejudicam sistematicamente um grupo social ou étnico em benefício de outro, e isso baliza o funcionamento de uma sociedade –, as ordens imaginárias não escapam da lógica de dominação. A repetição de imagens – no cinema, na mídia, nas redes – muitas vezes torna familiar e naturaliza concepções que ajudam a construir, apoiam e mantêm opressões como racismo, sexismo, estigmatização de grupos historicamente discriminados e exterminados pela dominação de matriz colonial, que persiste no mundo globalizado de hoje. 

O cinema pode ser uma ferramenta privilegiada para combater e romper com esses modelos hegemônicos de ver, pensar e representar o outro dentro de uma lógica de opressão. Ver-se em outra perspectiva, imaginar-se, descrever-se e reinventar-se pelo cinema é uma forma de descolonizar imaginários, interrogar as matrizes de representação opressoras e criar estratégias para a construção de outras, que em vez de reduzir, multiplicam as possibilidades de existência na ideia de diversidade.

É com esse olhar que a curadoria da Mostra selecionou 23 filmes dirigidos apenas por pessoas negras e indígenas e organizou 11 atividades (debates, encontros, oficinas e mais) relacionadas às questões abordadas pelas obras. 

Os filmes e as atividades estão organizados em seis eixos temáticos: Experiências do corpo e da fé: religiosidade, estética e antirracismo; Em defesa da vida: direito ao território e ao modo de viver; Árvore da memória: busca da ancestralidade e combate ao apagamento e à invisibilidade; Muros do racismo: estruturas e fronteiras geográficas, materiais e simbólicas; Vidas negras importam: violência de Estado e genocídio da população negra; Outras histórias possíveis: memória, vozes e disputa de narrativas. 

A Mostra abre, ainda, uma conexão direta com Portugal: parte da programação está pensada especificamente para estabelecer diálogos com este país de histórico colonizador e, respeitadas as diferenças, promover debates sobre temas e entre pessoas a partir de pontos em comum. Assim, filmes de realizadores que trazem histórias vividas no continente africano e nas diásporas, em países como Angola, Guiné e Quênia, além de Portugal, somam-se à programação do encontro, proposto como espaço de diálogo e comprometimento.

Os documentários têm acesso gratuito pela plataforma TodesPlay (tanto para Brasil quanto para Portugal), por onde também serão transmitidos debates e outras atividades online com pessoas convidadas. Acontecem, ainda, algumas atividades presenciais em ambos países; destaque especial para as caminhada históricas pelos centros de São Paulo e Lisboa, revisitando lugares de presença africana nessas cidades. Em São Paulo, a programação presencial acontece no Centro Cultural São Paulo (CCSP) e no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. Em Lisboa, acontece no Museu do Aljube – Resistência e Liberdade. Em todos os locais presenciais, o público será reduzido e haverá protocolos de segurança.

08.09.2021 | by Alícia Gaspar | antirracismo, ativismo, cinema, democracia, mostra taturana de cinema

REVOLUÇÃO, HISTÓRIA E DEMOCRACIA - Programa de Iniciativas do IHC pelo Aniversário do 25 de Abril

Ciclo de iniciativas do Instituto de História Contemporânea, a pretexto de mais um Aniversário do 25 de abril de 1974.

Todas as iniciativas serão transmitidas no canal youtube do Instituto. Participam nas iniciativas: José Pedro Castanheira, Amália Rodrigues, Manuel Deniz Silva, Miguel Carvalho, Nuno Domingos, Raquel Ribeiro, Flávio Almada (lbc), Inês Galvão, Amílcar Cabral, Susana Peralta, Ana Ferreira, Cláudia Ninhos, Jorge Pedreira, Inês Brasão, João Leal, Inácia Rezola, Pedro Rei Silva, Edgar Silva, Pedro Ramos Pinto, Madalena Meyer Resende, António Costa Pinto, Pedro Aires de Oliveira, Rita Narra Lucas, Luís Trindade, Ricardo Noronha, Rita Luís, Rui Lopes.

09.04.2021 | by Alícia Gaspar | 1974, 25 de abril, democracia, história, instituto de história contemporânea, liberdade, revolução

Aqui em carne e osso com Mamadou Ba

SOMOS DE CARNE E OSSO, pessoas de proveniências variadas e diferentes gerações que não suportam o racismo nem as suas formas de violência, declaradas ou subtis. Entendemos que o colonialismo foi responsável pela exploração e genocídio de povos e culturas, assente em conceções de superioridade racial inadmissíveis, hoje como no passado.

Somos pessoas que não podem ficar caladas face às iniciativas que tentam transformar o antirracismo e ativistas antirracistas em inimigos da democracia. Condição para democracia plena são sociedades plurais e assentes na diversidade, capazes de olhar para o seu passado sem trauma ou glorificação, garantindo o respeito pelos direitos humanos de todos os refugiados, imigrantes, minorias étnicas que aqui têm a sua vida ou esperam poder tê-la.

Não criámos perfis automáticos. Cada um/a de nós é uma pessoa de carne e osso que não pode ficar calada neste tempo em que o racismo se normaliza no espaço público e a discriminação e violência encontram adeptos e ganham força no silêncio das pessoas decentes.

AQUI EM CARNE E OSSO COM MAMADOU BA 

24.02.2021 | by Alícia Gaspar | anti-racismo, antifascismo, ativismo, democracia, Mamadou Ba, Portugal, somos de carne e osso, SOS Racismo

Encontro "Em defesa da democracia brasileira" | Teatro Capitólio, Lisboa [12 ABR, 18h]

O Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e a Fundação José Saramago (FJS) têm a honra de convidar V. Exa. a participar no encontro“O Futuro das lutas democráticas: Em defesa da democracia brasileira”, que terá lugar no dia 12 de abril, no Teatro Capitólio (Lisboa), às 18h00.

Neste encontro em defesa da democracia brasileira reunir-se-ão representantes políticos do Brasil, Espanha e Portugal, entre os quais Guilherme Boulos eManuela D’Ávila (ambos pré-candidatos à Presidência do Brasil pelo PSOL e PCdoB, respetivamente), Tarso Genro (PT), Cristina Narbona (Presidenta do PSOE), Pablo Iglesias (Secretário-Geral do Podemos), Ana Catarina Mendes(Secretária-Geral adjunta do PS) e Catarina Martins (Coordenadora do Bloco de Esquerda).

A sessão será coordenada por Pilar del Río (FJS) e Boaventura de Sousa Santos (CES).

A entrada é livre e não serão feitas reservas antecipadas de bilhetes.

05.04.2018 | by martalanca | Brasil, CES, democracia

Guiné-Bissau: Golpismo ou Democracia

Há uma maldição guineense? A sucessão de golpes e tentativas de golpes de Estado e eliminações de personalidades políticas parece avalizar essa leitura. Instalou-se no senso comum a tese de que a Guiné-Bissau está condenada a uma turbulência política e militar sem fim. Naquela terra, a paz não será senão a preparação da guerra que vem.

E, no entanto, talvez a única maldição guineense seja a do esquecimento e invisibilidade. Fosse a Guiné no Médio Oriente ou no Magreb e a história seria seguramente outra. Até agora, o único motivo de interesse que tem sido reconhecido à Guiné-Bissau parece ser o da sua localização estratégica para os fluxos de narcotráfico entre a América Latina e a Europa. Ele tem acentuado todos os fatores de trivialização de uma cultura de tomada de poder pela força na Guiné-Bissau. 
Entretanto, e por paradoxal que seja, a Guiné tornou-se foco de disputa por agendas estrangeiras. Desde a oportunidade de o Senegal, com o envio de tropas, desativar o apoio aos rebeldes de Casamança até à invocação, por Angola (com os olhos em negócios como o da bauxite), do seu sucesso numa efetiva reforma do setor de segurança guineense - que a União Europeia financiou longamente sem qualquer concretização, como é manifesto - passando pela vontade da Nigéria de travar qualquer ascendente angolano na região, as razões para intervir na Guiné multiplicam-se. Mas os interventores refugiam-se em roupagens multilaterais: os interesses do Senegal, da Nigéria ou outros são veiculados pela CEDEAO, enquanto a estratégia de Angola tem o rótulo oficial da CPLP.
O golpe de 12 de abril só se compreende à luz desta combinação perversa entre poder dos barões da droga e choque de estratégias exteriores. A interrupção do processo eleitoral na véspera da segunda volta, quando tudo apontava para a vitória de Carlos Gomes Júnior, favorável a uma aproximação da Guiné com Angola, tem uma leitura clara. Reforçada aliás pelo golpe em cima do golpe perpetrado pela CEDEAO, ao impor a validação de um governo de transição contra a reposição da legalidade constitucional democrática. 
Pelo meio fica o povo da Guiné. Um povo supérfluo para os interesses estratégicos. Sintomaticamente, conhecemos da Guiné os golpes e contragolpes mas não se noticia a deterioração dramática da situação humanitária, com o não pagamento dos salários, o ano escolar perdido, a campanha do caju (que é o principal sustento das famílias) comprometida pondo em causa a segurança alimentar da grande maioria da população pobre, a paralisia económica e a subida exponencial do preço dos bens de primeira necessidade, a situação de desesperança nas camadas mais jovens em resultado da associação entre desemprego e privação, a repressão de manifestações contra os golpistas e a circulação de listas negras para eliminação de quem seja incómodo.
É em nome das mulheres e dos homens da Guiné sem rosto nem nome nos grandes meios de comunicação internacionais, que se impõe uma posição de firmeza de quem se quer amigo da democracia e dos direitos humanos repudiando todos os golpes e ameaças e apoiando a prevalência da soberania popular. Foi essa firmeza radicada em princípios e não em alianças de conveniência momentânea com atores locais que faltou ao longo destes anos, diante da onda de assassinatos, de golpes e de chantagens que marcaram todos os dias da vida dos guineenses. Apesar disso, nunca é tarde para se ser digno e querer para esse povo o direito de decidir em paz, em democracia e em liberdade o seu futuro.

 

José Manuel Pureza

Artigo originalmente publicado no Diário de Notícias, 01/06/2012
Fonte: cenaberta

04.06.2012 | by joanapereira | democracia, Guiné-Bissau