Confiança radical

Confiança radical Parece-me que a CONFIANÇA é talvez uma das acções mais radicais para enfrentar os demagogos, os populistas, os mentirosos, os “autênticos” salvadores. Mas temos ainda um longo caminho pela frente, que exige uma construção sobre os valores de honestidade, transparência, empatia e inclusão. As pessoas, os cidadãos, precisam de se sentir fortes, confiantes, com poder. Precisam de sentir que são importantes, precisam de acreditar que “Sim, eu posso fazer algo”. Confiar na bondade de desconhecidos, no entanto, não é algo que acontece “porque sim”. Confiar é ir contra os instintos de medo e sobrevivência. É radical; é preciso coragem; é o que nos falta.

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21.12.2022 | por Maria Vlachou

Dez filmes num livro sobre o cinema político brasileiro para tirar “os morcegos do baú”.

Dez filmes num livro sobre o cinema político brasileiro para tirar “os morcegos do baú”. A reunião de um grupo de realizadoras de gerações e regiões diversas, experiências profissionais e cinematografias diferenciadas é um dos pontos a destacar do livro de Lídia Mello, embora seja de assinalar a ausência de realizadoras negras e periféricas no recorte seletivo. Não se trata aqui de uma falha de critério por parte de Mello, mas sim de um indicador da desigualdade de oportunidades na sociedade brasileira, que atinge também a produção cinematográfica.

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16.12.2022 | por Anabela Roque

ACARTE: heterotopia, heterocronia e a construção do comum

ACARTE: heterotopia, heterocronia e a construção do comum A partir do ACARTE, Bigotte desenvolve um sofisticado exercício de interpretação das transformações sociais ocorridas em Portugal na década de 80, usando um não menos sofisticado aparelho critico que lhe permite abordar as temporalidades, espacialidades e as múltiplas corporalidades que se colocam em jogo num período de intensas transformações. ACARTE aparece como uma heterotopia e heterocronia. Aparece como um ALEPH no qual se suspendem as determinações de uma sociedade recém-saída do longo período da ditadura de Salazar, no qual se viram truncadas, espacial, temporal e corporalmente, as aspirações da modernidade proclamadas por Almada.

Palcos

14.12.2022 | por Jesús Carrillo

“A vida das mulheres não tem significado para os governantes angolanos”, entrevista a Djamila Ferreira

“A vida das mulheres não tem significado para os governantes angolanos”, entrevista a Djamila Ferreira Nasci em 1989 e cresci num país onde nunca vi um partido diferente a governar, nunca vi alternância política, cresci com um único Presidente da República, que só mudou há quatro anos. Estou a ver outro Presidente no poder e aí se quer manter. Por causa disso, penso que houve mais união popular para fazer pressão e empurrar o sistema. A ativista angolana fala das dificuldades de quem trabalha em recorrer à Justiça angolana e de como falha em casos de abandono familiar, situações de abuso e violações sexuais e despedimentos por gravidez. "Temos as mulheres totalmente acorrentadas e condenadas a serem cada vez mais pobres."

Cara a cara

14.12.2022 | por Marta Lança

“O impulso fotográfico”, (Des)arrumar o Arquivo Colonial

“O impulso fotográfico”, (Des)arrumar o Arquivo Colonial Nesta exposição, a expansão da fotografia associa-se à expansão científica colonial que vê na fotografia a tecnologia adequada para visualizar, medir, classificar e arquivar os seus objetos de estudo de modo potencialmente infinito, num contexto de progressivo extrativismo. Partindo desta obsessão pela medição e classificação, mostra-se os modos como os territórios e os corpos das pessoas colonizadas foram visualmente apropriados durante as missões científicas de geodesia, geografia e antropologia, no período 1890-1975, e como se difundiram as narrativas da ciência colonial.

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11.12.2022 | por vários

A (re) construção do cânone literário caboverdiano pelo olhar das antologias (parte 2)

A (re) construção do cânone literário caboverdiano pelo olhar das antologias (parte 2) Por isso, só podemos estar moderadamente optimistas com o futuro imediato e a médio prazo das duas línguas da República de Cabo Verde, desde que finalmente se ouse dar o passo decisivo: a co-oficialização plena dessas nossas duas línguas, assim instituindo de uma vez por todas o bilinguismo oficial em Cabo Verde (e sem quaisquer restrições que não sejam as advenientes da norma constitucional programática e relativa à natureza gradual dessa mesma oficialização plena da língua caboverdiana (aliás, complementar daquela que venha a oficializar de forma plena se bem que somente político-simbolicamente), bem como a introdução com a máxima urgência da língua caboverdiana no ensino formal caboverdiano.

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06.12.2022 | por José Luís Hopffer Almada

Que bem que se está no campo ou O mito da bicha selvagem

Que bem que se está no campo ou O mito da bicha selvagem O construtor da charca e das inúmeras tentativas contra a burocracia para plantar árvores autóctones, toma a palavra dos carvalhos e do monte e das rãs. Mas é na condição de vivente igual e honesto que o faz. Transporta para o corpo, o seu, o resgate, possível, da vida. Não temer a morte, pois. As pedras e a sua charca dizem-lhe a todo o momento que a vida se transmigra de qualquer maneira, também lhe dizem que faz parte delas. Por isso e porque a charca secará em breve, um jardim, onde a tentação e o trabalho acabaram, servirá não de paraíso mas de momentâneo epílogo.

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04.12.2022 | por Josina Almeida

Caro amigo racializado (da branquitude)

Caro amigo racializado (da branquitude) o privilégio é branco e o beneficiário da branquitude é maioritariamente branco. Mas a África não está fora dos grilhões da branquitude, porque a branquitude é mais do que a cor branca, a branquitude não é sobre indivíduos nascidos de motivos biológicos não decididos por eles mesmos, mas sobre o sistema que opera na base de uma regra odienta que cega e nega afeto ao mundo preto. Porém, paradoxalmente, há pretos que têm benefício com isso. A branquitude usa o racismo para operar e segregar; e o racismo, apesar de branco (se falarmos só da Europa, porque, caro amigo racializado, temos a China ali ao lado também a racializar-nos), o racismo opera noutro nível, controlando povos e economias, mas concentrando-se mais na cor.

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02.12.2022 | por Marinho de Pina

A (re) construção do cânone literário caboverdiano pelo olhar das antologias (parte 1)

A (re) construção do cânone literário caboverdiano pelo olhar das antologias (parte 1) A escrita de autoria caboverdiana tem já um longo historial. Ela remonta ao século XVI, ainda era Cabo Verde uma terra conhecida dos europeus e africanos há menos de dois séculos, e inicia-se pela lavra de André Álvares de Almada, um mestiço natural da cidade da Ribeira Grande de Santiago de Cabo Verde, feito filho da terra caboverdiana, ainda a crioulidade emitia os seus primeiros vagidos numa sociedade marcada pela estratificação social fundada na escravização dos negros africanos trazidos da Costa Africana vizinha e na omnipotência dos senhores brancos idos de Portugal e de outras terras europeias. Impuro de sangue, porque também descendente de negros, mas perfilhado e adoptado pela família fidalga do pai branco, André Álvares de Almada empreendeu por sua iniciativa uma longa e aventurosa viagem à Costa de África vizinha, então chamada pelos Europeus Rios da Guiné do Cabo Verde e sobre a qual viria a escrever o Padre António Vieira como “correspondendo em Guiné ao Bispado de Santiago”.

Mukanda

02.12.2022 | por José Luís Hopffer Almada

A revolta organizada de Uýra Sodoma

A revolta organizada de Uýra Sodoma A arte de Uýra Sodoma é plástica, mutável, transitória. É tanto destrutiva e quanto regenerativa, como também o são as transformações contínuas da ecologia úmida e proliferativa da floresta tropical. Replica e altera as forças e formas do território onde nasceu. Sua exploração contínua não é guiada pelo desejo de domínio mas pelo encanto do reimaginar. As formas que Uýra Sodoma cria a partir de seu próprio corpo são enredadoras e deslumbrantes. No centro delas, um olhar agudo escava e revela o está oculto sob os escombros da conquista colonial e sua história sem fim.

Corpo

02.12.2022 | por Sonia Corrêa

José Saramago, as cinzas e sangue de Chiapas

José Saramago, as cinzas e sangue de Chiapas Nos finais dos anos 90, José Saramago deu o corpo e pena ao manifesto pela causa zapatista. A denúncia das atrocidades contra os indígenas de Chiapas fez do escritor uma figura incómoda para o então governo do México. A 100 anos do nascimento do Nobel da Literatura português, escolas, universidades e movimentos sociais mexicanos comemoram com carinho o escritor que um dia atirou: ‘Se não me encontrarem no meu país, procurem-me no México’”.

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01.12.2022 | por Pedro Cardoso

O silêncio é o estampido de uma selva farta

O silêncio é o estampido de uma selva farta Mas então porque o silêncio, por si só, é assim tão vangloriado e enaltecido, enquanto a voz, por sua vez tão demonizada, ou diabolizada como medíocre e menor? Isto ocorre justamente porque o silêncio quando não é dialético torna-se reacionário. E que este teor falacioso e unitário do silêncio, por ele mesmo, é instrumentalizado de forma equivocada e conveniente, porque o silêncio de alguns é o projeto de projeção da voz de outros.

Mukanda

29.11.2022 | por Manuella Bezerra de Melo

O kuduro no Fim do Mundo, e na cabeça, corpo, boca de Gio Lourenço

O kuduro no Fim do Mundo, e na cabeça, corpo, boca de Gio Lourenço O corte simboliza a situação do que aconteceu comigo com a minha cicatriz. Foi em Luanda. A festa é já cá em Portugal no bairro Fim do Mundo, as festas que a minha mãe fazia. A amnésia são partes em que busco coisas no subconsciente.

Cara a cara

28.11.2022 | por Marta Lança

"Resistência Visual Generalizada”: algumas reflexões críticas para recordar o passado do século XX na luta contra o presente neo-liberal

"Resistência Visual Generalizada”: algumas reflexões críticas para recordar o passado do século XX na luta contra o presente neo-liberal Se outros sistemas económicos e sociais caíram no passado, porque é que o capitalismo não pode acabar, mais tarde ou mais cedo? Porque não levantar essas questões, geralmente declaradas como "impossíveis" de resolver? Por vezes, pensamos nas organizações económico-políticas das sociedades como estruturas imutáveis, as formações guerrilheiras não o fizeram, mesmo quando tudo podia parecer perdido. Sonhando e praticando sonhos, as utopias tornam-se realidade.

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23.11.2022 | por Francesco Biagi

Caro amigo branco (da privilegiação)

Caro amigo branco (da privilegiação) Com frequência é ignorado que não és o culpado do estado das coisas, apenas um beneficiário, ativo ou passivo, de um sistema de enganos criados e estruturados para reduzir a cacos determinados fulanos quando não são brancos. E quando não fazes parte dos prejudicados, és um privilegiado. Quando não tens de lidar com uns quantos obstáculos só pelo facto de seres branco, é isso, bacano, que é chamado de privilégio branco.

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17.11.2022 | por Marinho de Pina

Projeto Popular, de Ícaro Lira

Projeto Popular, de Ícaro Lira O sufocamento de vozes insurgentes está todo aqui. Nesses arquivos, fotografias, pedaços de jornal, projetos sociais e manifestações populares. São todos parte da cartografia proposta por Ícaro Lira. Dos estopins causadores das revoltas - não deixando silenciar seus respectivos processos sociais de ruptura – ao esmagamento violento por parte do Estado.

Mukanda

15.11.2022 | por Beatriz Lemos

“Para pôr som é preciso fazer a leitura das pessoas”, entrevista ao artista e Dj Lucky

“Para pôr som é preciso fazer a leitura das pessoas”, entrevista ao artista e Dj Lucky A instalação é o pretexto para falarmos da sua trajetória de vida. Equilibrista entre várias culturas, vive há 31 anos numa Lisboa agora mais aberta e diversa, abertura e diversidade para as quais pessoas como Lucky tanto contribuíram, desde construí-la a pô-la a dançar. Uma cidade de momentos duros, mas de encontros e possibilidades com os quais foi crescendo. Neste texto, são as memórias de Dj Lucky que nos conduzem, entre várias pistas de som, de quisange, semba e afroblues, e várias pistas no chão, de Kinshasa ao bairro da Graça, passando por Luanda, Cova da Moura e Bairro Alto.

Cara a cara

15.11.2022 | por Marta Lança

A Revolução Mahsa Amini

A Revolução Mahsa Amini Em resposta e apoio a esta repressão e contestação popular, a União Europeia tem o dever de agir e apoiar os direitos das mulheres do Irão, em particular e, em geral, apoiar os cidadãos deste país do Médio Oriente. A União Europeia, um dos maiores blocos económicos mundiais e líder internacional na defesa dos Direitos Humanos e da Democracia, tem à sua disposição várias ferramentas que podem colocar em ação o quanto antes.

Jogos Sem Fronteiras

08.11.2022 | por Rui Martins

Tela d'Pano Terra: Mostra Inédita de Cinema Caboverdiano chega a São Paulo pela mão do Nicho 54

Tela d'Pano Terra: Mostra Inédita de Cinema Caboverdiano chega a São Paulo pela mão do Nicho 54 A quarta edição do festival negro de cinema NICHO Novembro acontece na cidade de São Paulo de 4 a 13 de novembro de 2022. Este ano, o festival inclui como país convidado, Cabo Verde, com uma curadoria alargada intitulada Tela d’Pano Terra: Nova Onda Cabo Verde, de 7 a 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. A curadoria do Tela d'Pano Terra vem demonstrar o potencial de um setor do audiovisual pujante, ambicioso e aspiracional, ainda emergente mas apostado na disseminação do cinema de Cabo Verde e no reconhecimento e amplificação da marca desse país-arquipélago que nutre relações estreitas com o Brasil. Vem também potenciar e evidenciar os significativos impactos sócio-económicos diretos e indiretos do setor – nomeadamente na diversificação da economia e na expansão da economia do conhecimento e da cultura.

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05.11.2022 | por P.J. Marcellino

A internet é afropolitana, entrevista com Achille Mbembe

A internet é afropolitana, entrevista com Achille Mbembe Achille Mbembe discute a história e o horizonte da comunicação e identidade digital no continente africano com Bregtje van der Haak. Mbembe sugere que o que alguns consideram a explosão da Internet é, na verdade, apenas a continuação das antigas culturas na nova era do Afropolitanismo.

Cara a cara

04.11.2022 | por Bregtje van der Haak